Recentemente, completei 40 anos e confesso que, de fato, muita coisa mudou
ao ter entrado nessa nova fase da vida. Enquanto alguns dizem que a vida começa
aos 40, outros fazem questão de lembrar que a idade vem chegando, quase como
num tom de ameaça de que daqui para frente tudo será mais difícil. Como se o
avanço da idade significasse que tudo ficará mais difícil, sobretudo, no que
diz respeito à capacidade de acompanhar os avanços tecnológicos e à habilidade
de lidar com as gerações mais novas. Cheguei até a ouvir aquele velho ditado
que diz que “o cachorro velho também precisa aprender truques novos”.
Porém, tenho um enfoque muito diferente no que diz respeito a essa questão
de idade, gerações e tecnologia. Penso que, diante de tanta inovação, a questão
do envelhecimento ultrapassou a barreira da idade e está muito mais ligada à
nossa capacidade de acompanhar a constante evolução tecnológica do que à idade
propriamente dita. Há pessoas mais idosas que estão muito mais atualizadas
tecnologicamente do que pessoas mais jovens. Fica então a questão: quem é,
nessa história, o cachorro velho que deve aprender o truque novo?
Tanto é que, atualmente, as gerações mudam sucessivamente numa velocidade
muito maior do que era no século passado. Para conseguirmos acompanhar essa
contagem, batizamos as gerações com nomes e letras como se fossem rótulos que
atestam que, por exemplo, pessoas pertencentes à geração Baby Boomers estão necessariamente
mais desatualizadas do que as pessoas da geração Y.
Embora essa classificação seja importante no sentido de condensar os saltos
tecnológicos que configuram a mudança de cada geração, penso que ela é
incompleta. Esse século tem nos mostrado que precisamos definir os limites de
cada geração por meio de outra variável, tão ou mais importante quanto a
tecnologia: a evolução comportamental. O termo “comportamental” é muito
genérico e se refere a questões muito importantes para o ser humano como o equilíbrio
emocional, a espiritualidade, o conhecimento e a ênfase nas relações.
Há algum tempo já são feitas afirmações de que a humanidade passaria por uma
mudança de paradigma que simboliza esta evolução comportamental. Peter Drucker
afirmava que este século marcaria o início da chamada Sociedade do
Conhecimento, na qual os seres humanos constatariam que as informações virtuais
ou à distância não mais poderiam substituir os relacionamentos face a face e
que as relações trabalhistas passariam a ter ênfase nas pessoas e não somente
no trabalho em si[1].
É importante notar que a evolução comportamental passa inexoravelmente pelo
desenvolvimento e valorização do conhecimento – formal e informal – pois
conhecimento é sinônimo de experiência e, por sua vez, a experiência permite
que comportamentos melhores sejam adotados à medida que a pessoa fica mais
velha. Esse processo se retroalimenta e, assim, a pessoa vai adquirindo um novo
conjunto de conhecimentos e habilidades que são frutos de suas experiências
anteriores, aumentando ainda mais seu conhecimento e experiência. Ou seja,
inevitavelmente, “o cachorro velho aprenderá truques novos”.
Porém há que se chamar a atenção para o fato de que esse processo se
desenvolverá mais facilmente à medida que a pessoa envelhecer e,
principalmente, se ela estiver aberta ao aprendizado. Essa é a grande questão,
pois, o aprendizado tecnológico, que caracteriza as gerações mais novas, não,
necessariamente, as leva ao conhecimento e à evolução do seu comportamento. O
acesso e uso da tecnologia não resultarão, obrigatoriamente, em aumento do
conhecimento. É por conta disso que talvez faça sentido afirmar que é mais
urgente que as pessoas novas aprendam truques novos ao invés de esperar que
esse papel caiba somente às gerações mais velhas.
Fonte: ADMINISTRADORES
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