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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Cloud computing é inevitável. Render-se ou esperar?

A computação em nuvem, nos próximos anos, provocará tantos efeitos na sociedade quanto o e-business.
Quando escrevi meu livro sobre cloud computing, em 2009, o assunto ainda era curiosidade. A pergunta mais ouvida era: “O que é cloud computing?”. Estamos em 2012 e muita coisa mudou. Os questionamentos se deslocaram de “vou ou não para cloud?” para “quando e em que ritmo devo adotar cloud?”.

A computação em nuvem, nos próximos anos, provocará tantos efeitos na sociedade quanto o e-business. Hoje, convivemos naturalmente com o comércio eletrônico e internet banking que, aliás, caminha rápido para se tornar mobile banking. Há uns dez anos, havia muito receio de usar comércio eletrônico e ter de passar dados dos cartões de crédito pela internet. Acessar a conta corrente do banco via web? Era viver perigosamente... Mas tudo mudou. E muito rápido!

Um estudo interessante da Bain & Company mostrou que há um ponto de inflexão econômico quando as vendas na internet alcançam 15% das vendas totais de uma determinada categoria. A partir disso, é grande a possibilidade de fechamento de lojas físicas e falência de marcas. Um exemplo é a Blockbuster, que fechou quando as vendas de vídeo online alcançaram 17% do mercado.

O estudo mostrou que o varejo online canibaliza vendas nas lojas físicas no Brasil, uma vez que as vendas na internet crescem 24,4% ao ano, enquanto nas lojas físicas o crescimento é de 11,8% ao ano. As lojas físicas vão acabar? Não, pois sempre (pelo menos no futuro previsível) teremos consumidores comprando nas lojas físicas, mas é uma ameaça a quem não investir pesado na internet. Por exemplo, a Amazon destina 5% do seu faturamento para P&D e o eBay investe 10% da sua receita no desenvolvimento de novos produtos online. Na prática, se o consumidor quiser comprar pela web, ele o fará. Enfim, se o varejo tradicional bobear, pode quebrar mesmo se for uma rede imensa. Blockbuster era um negócio bilionário...

Esse efeito avassalador está também ocorrendo no setor de TI com a computação em nuvem. Entre os usuários pessoais já é de uso comum: Gmail, Dropbox, Picasa, Flickr, Twitter, Facebook... Usamos nuvens sem mesmo saber. E tecnologias sem necessidade de um técnico especializado por perto. Simplesmente não existe curso para usar Facebook. Você abre um perfil e começa a usá-lo. Esse uso disseminado pelas pessoas físicas gera uma pressão nas empresas para que as facilidades que encontramos nas nuvens pessoais também estejam disponíveis no ambiente de trabalho.

O ambiente corporativo já olha a computação em nuvem por outra óptica. As mudanças trazidas por esse modelo traz já estão e vão afetar ainda mais, e de forma significativa, a maneira como adquirimos e utilizamos recursos computacionais, mudando as relações entre fornecedores de serviços, produtos de tecnologia e clientes. A própria indústria de TI vai ser obrigada a redesenhar modelos de negócio. E alguns outros serão criados.

Exemplos? O de outsourcing tradicional será transformado de maneira radical. Empresas de serviço desenvolverão negócios voltados à integração entre a nuvem e a maioria dos ISVs, até por questões de sobrevivência, adotarão nuvem. Ecossistemas em torno de serviços e produtos de cloud serão desenvolvidos. Essa mudança já está visível quando analisamos pesquisas, como uma recente realizada pela Saugatuck Technology, que ao perguntar aos CIOs quais serão as modalidades preferidas para aquisição de software para os próximos anos, mostrou que, para 2014, a soma das alternativas exclusivamente em cloud e pelo modelo hibrido cloud + on premise, ficam com 60%. Adquirir estritamente pela prática tradicional de vendas de licença on premise ficou com apenas 40%. É, indiscutivelmente, um movimento irreversível.

Por outro lado, TI está na encruzilhada da decisão: com cloud poderá criar soluções a custos bem menores e velocidades bem maiores que no modelo atual. Por outro lado, seu papel passa a ser mais de broker, buscando e intermediando soluções seja lá onde se encontrem, na nuvem interna (privada) ou externa. Olhando o exemplo do varejo tradicional: se a TI de uma empresa relaxar, corre o risco de desaparecer.

Aí entra a questão correta: não posso lutar contra cloud, mas como explorar a computação em nuvem da melhor forma possível? O papel de broker fará com que TI seja também um “cloud provider”, mesmo para clientes internos. Não é simples. Tem de ser mais ágil e menos custosa que atualmente. Os benchmarks que serão usados para avaliar a TI interna serão com os provedores de nuvens, e não com empresas do mesmo setor ou porte, como hoje.

Exemplo interessante é o projeto de avaliação da TI, feita pela Bechtel em 2008, quando ela comparou-se a provedores de nuvem. O texto vale a pena ser lido. Além disso, como não será capaz de deter a entrada de novas aplicações que operam em nuvens públicas, a área de TI terá de revisar e desenvolver métodos e processos (como ITIL), adotando novas tecnologias que garantam não apenas segurança, mas interoperabilidade entre as diversas nuvens que constituirão o futuro portfólio de infraestrutura de TI das companhias.

O processo de migração para o ambiente de nuvem já começou. Pesquisa divulgada pela CIO Magazine em 2011 já apontava que metade dos CIOs entrevistados estava adotando a mesma estratégia do governo americano de “Cloud First”. Essa política diz que o uso de cloud é prioridade em qualquer novo desenvolvimento.

Obviamente que a migração não pode e nem deve ser feita no estilo “Big Bang”. Existem muitas barreiras, como cultura da organização, nível de maturidade de TI e mesmo a abrangência do seu portfólio legado, que muitas vezes podem ser um impeditivo. As estratégias de cada empresa vão variar, mas me parece bem lógico que um modelo de cloud bastante comum será o que chamamos de nuvem híbrida, com parte das aplicações rodando em nuvem privada e o restante em nuvem pública.

A construção de aplicativos multitenancy, explorando o paralelismo implícito em nuvens, provavelmente virá com o amadurecimento do conceito na área de TI. No início, veremos o simples deslocamento de aplicações on premise para rodar em ambientes virtualizados. Lembrando que virtualização é apenas o primeiro estágio para a “cloudficação”. Aliás, nunca é demais repetir que a fórmula da computação em nuvem é virtualização + padronização + automatização + self service.

O ritmo e a abrangência da adoção de cloud também variam de empresa para empresa. As organizações da economia criativa, em que praticamente tudo é software, já começaram na nuvem. Exemplos? Foursquare, LinkedIn, Peixe Urbano, Zynga, Netflix e outras que não usam data centers próprios, apenas nuvens públicas. A criação de um negócio em ambiente de nuvem é muito mais simples e barato que antes. O artigo “Why Sofware is Eating the World”, escrito por Marc Andreesen, o criador do Netscape e hoje investidor, publicado no Wall Street Journal, exemplifica claramente um case no qual ele diz que, em torno do ano 2000, operar um empreendimento na internet custava cerca de 150 mil dólares/mês, enquanto hoje, em nuvens públicas, o custo caiu para 1,5 mil dólares/mês. A possibilidade de criarmos, com o uso de computação em nuvem, startups de forma mais barata e rápida abre um novo campo para o empreendedorismo.

Aliás, o software está-se tornando a maior vantagem competitiva das empresas. Continuamente, observamos setores tradicionais do mundo físico, sofrendo disrupção devido ao software. E inovação em software demanda rapidez de desenvolvimento, porque a janela de oportunidade se fecha muito rapidamente. Para atender a essa velocidade, precisamos de um ambiente flexível e ágil, como o que a computação em nuvem oferece.

As empresas mais convencionais vão migrar aos poucos, mas qualquer que seja o setor de indústria em que atua, usarão clouds nos próximos anos. Algumas mais concentradas em nuvens privadas, como bancos, e outras mais voltadas a públicas, como pequenas e médias companhias.

Fazendo um exercício de futurologia... Imaginemos o final desta década... Em minha opinião, não estaremos mais falando em cloud computing, mas apenas em computing, pois cloud será o nosso modelo mental de pensarmos e usarmos TI. Além disso, muitos dos profissionais que construíram o modelo cliente-servidor, dominante hoje, estarão aposentados ou perto disso, e os novos profissionais que assumirão posições de gestão já terão convivido muitos anos com nuvem, em casa e no trabalho. Será natural para eles usarem cloud como modelo natural de TI. Portanto, cloud computing não deve ser visto como uma iniciativa de simples cunho tecnológico, de melhoria de infraestrutura, mas sim subordinada a uma visão maior, estratégica, de reposicionamento da própria empresa no mercado.

Por Cezar Taurion

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