Esqueça
aquela história de jovens brilhantes e idosos lentos. Ao contrário do que
sempre se imaginou, não existe uma idade de ouro do cérebro, quando todas
nossas habilidades estariam no auge.
É o que
indica um novo estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT), em
parceria com o Hospital Geral de Massachussets, nos Estados Unidos, que
descobriu que a cada faixa etária um tipo de inteligência tem seu desempenho
máximo.
Publicada em
2014, a pesquisa analisou, desde 2008, 50 000 testes de funções cerebrais. “A
inteligência fluida, relacionada ao processamento de informações novas, tem
auges em várias idades, não apenas um pico aos 20 anos”, diz Laura Germine,
psiquiatra e neurocientista e uma das autoras do estudo.
“Há coisas que ficam melhores com o uso e o
tempo, e outras que dependem mais da juventude. ” A conclusão é que todos têm
algo a oferecer em cada idade, justamente porque o cérebro está sempre mudando
e se adaptando.
Os picos
notados no estudo não são uma regra. “As diferenças entre os indivíduos da
mesma faixa etária são maiores do que as diferenças entre os grupos em si”,
afirma Laura.
Ao entender
o cérebro, fica mais fácil compreender por que somos melhores ou piores em
determinados aspectos de convívio social (e de raciocínio) que podem
influenciar o modo como encaramos os dilemas do trabalho e tomamos decisões.
Dos 18 aos 20 anos
EM ALTA:
PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÕES
A velocidade
para processar informações chega ao máximo. Ao encarar dados e detalhes novos,
essa pessoa não se sente perdida. “O novo não assusta nessa fase”, diz
Vladimir Ponczek, coordenador do Learn, laboratório de pesquisa e análise do
aprendizado da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.
EM BAIXA:
ANÁLISES APROFUNDADAS
Habilidades
importantes, como desenvolvimento de vocabulário e capacidade de fazer análises
mais aprofundadas, estão no começo. Afinal, muitas vezes os jovens ainda não
têm um repertório diversificado consolidado no cérebro.
COMO
APROVEITAR AO MÁXIMO: OBSERVE MUITO
Ser rápido
para processar diversas informações não quer dizer que você tenha compreendido,
de fato, o que aconteceu. “Conhecimento é associar uma informação a outra e,
para isso, é preciso experiência”, diz Marcos Cavalcanti, coordenador do centro
de referência em inteligência empresarial na COPPE, escola de negócios da Universidade
Federal do Rio de janeiro. Observe os mais experientes para criar repertório.
Aos 25 anos
EM ALTA:
MEMÓRIA RECENTE
A memória de
curto prazo alcança o auge e temos facilidade em reter informações novas. Isso
quer dizer que detalhes e pequenos prazos têm menos chance de passar
despercebidos.
EM BAIXA:
MATURIDADE EMOCIONAL
Nessa idade,
lidar com emoções é um desafio. Ao mesmo tempo, com a transição para a fase
adulta, enfrentam se situações sociais cada vez mais complexas. Essa dicotomia
pode gerar ansiedade social.
COMO
APROVEITAR AO MÁXIMO: DESENVOLVA A PACIÊNCIA
Mantenha a
calma quando se sentir desajeitado em certas interações no trabalho ou na vida
pessoal — não vai ser sempre assim. “As competências socioemocionais estão em
constante desenvolvimento”, AFIRMA Vladimir, da FGV. E use seus pontos fortes a
favor. A memória de curto prazo fortalecida ajuda a se organizar de maneira
mais eficiente no trabalho e facilita na hora de aprender novas práticas ou
conteúdos.
Aos 30 anos
EM ALTA:
CONVÍVIO COM OS OUTROS
Pode não
parecer uma habilidade cognitiva, mas a capacidade de reconhecer o rosto de
pessoas que você não conhece bem ou só viu uma vez tem seu auge por volta dessa
idade. “É uma função importante para o convívio social”, diz Marcos, da
COPPE.
EM BAIXA:
RAPIDEZ PARA ABSORVER NOVIDADES
Aos poucos,
ficamos mais lentos para processar novas informações, o que, em alguns casos,
pode levar à impressão de que estamos ficando para trás, pois o aprendizado não
é mais tão rápido quanto costumava ser.
COMO
APROVEITAR AO MÁXIMO: INVISTA NO CONTATO PESSOAL
Não perca
tempo tentando ser rápido como dez anos atrás. Agora você está ficando melhor
na interação social, o que é ótimo para o trabalho — ainda mais porque é nessa
idade que os profissionais começam a chegar a cargos de liderança. “É uma
habilidade importante para trabalhar bem em equipe”, diz Vladimir, da FGV.
Agora há mais facilidade para cultivar a rede de contatos e mais traquejo ao se
aproximar de pessoas novas.
Dos 40 aos 50 anos
EM ALTA:
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
A capacidade
de entender e reconhecer as emoções dos outros aumenta. Fica mais fácil saber o
que os outros podem estar pensando ou sentindo. E o raciocínio lógico também
melhora: esse é o pico das habilidades aritméticas, por exemplo.
EM BAIXA:
MEMÓRIA DE CURTO PRAZO
Aqui é o
momento em que a memória de curto prazo começa a ficar mais lenta. Anotar os
compromissos torna-se crucial para não se esquecer de nenhuma tarefa a ser
realizada.
COMO
APROVEITAR AO MÁXIMO: APOSTE NA INTUIÇÃO
“Nessa fase
temos mais repertório para lidar com pessoas e entender o que elas querem”, diz
Marcos, da FGV. Então, aproveite que a inteligência emocional, tão valorizada
pelo mercado de trabalho, está no auge da forma para mapear sentimentos e
aspirações das pessoas com as quais você trabalha E, por um lado, ajudar sua
equipe e colegas a se desenvolver e, por outro, encontrar aliados para novos
projetos e ideias.
Dos 60 aos 70 anos
EM ALTA:
COMPREENSÃO DE CENÁRIOS
Nesse
período, tudo que foi aprendido durante a vida está bem assentado no cérebro e
pode ser usado com mais eficiência. “É a fase do poder de comparação. Há
facilidade em pegar um dado novo e relacioná-lo com o que já viveu”, diz
Marcos, da FGV.
EM BAIXA:
APRENDIZADO DE NOVIDADES
Como o
cérebro já se habituou às informações do passado, a maioria das pessoas não tem
mais tanta facilidade para aprender coisas novas ou mudar antigos
hábitos.
COMO
APROVEITAR AO MÁXIMO: FAÇA CONEXÕES
A
experiência e o conhecimento são Patrimônios em qualquer lugar e podem
compensar em boa parte a possível decadência de outras funções cerebrais. “Pessoas
nessa faixa etária podem buscar na própria cabeça os elementos necessários para
analisar informações”, Afirma Vladimir Ponczek, da Fundação Getúlio Vargas de
São Paulo. Aposte no poder de análise e no vasto repertório ao discutir ideias
e dar opiniões.
Fonte: EXAME