Em plena
expansão da era digital, os profissionais de Tecnologia da Informação vivem um
contrassenso. Enquanto a demanda pelo especialista de TI aumenta, é cada vez
mais difícil encontrar pessoas capacitadas. Os motivos podem se confundir com
qualquer outra profissão considerada nova: falta de representatividade e
regulamentação.
De acordo
com a última pesquisa anual da Fundação Getúlio Vargas para o setor, apesar da
crise, o investimento das empresas brasileiras em TI ficou estável em 2015,
representando 7,6% do faturamento líquido. O setor cresceu 9,2% no país, que é
líder de investimentos na América Latina. Já o faturamento total do setor foi
de US$ 60 bilhões em vendas de software, serviços de TI e hardware, segundo a
consultoria IDC, e a previsão é de que fique no mesmo patamar este ano.
A qualidade
da mão de obra, no entanto, não tem refletido essa solidez do mercado. O
presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e
Tecnologia da Informação de São Paulo, Antonio Neto, afirma que um dos motivos
é o alto custo das certificações exigidas por algumas empresas. 'Quando você
entra no mercado, falta especificidade. Os programas são caros e as empresas investem
pouco nesses financiamentos.'
Para obter
uma certificação no Brasil, como a da Microsoft, que habilita o profissional a
administrar data centers modernos, os exames podem custar até R$ 1,6 mil. Uma
certificação mais simples, como a de operações diárias de manutenção e
gerenciamento de dados da Oracle, custa por volta de R$ 400. De acordo com o
mestre em tecnologia e diretor acadêmico do MBA da Faculdade de Informática e
Administração Paulista, Eduardo Endo, a falta de qualidade na mão de obra se deve
à diferença entre o que as empresas precisam e o que as universidades ensinam.
'Por isso, é possível ver um crescimento cada vez maior de cursos de curta
duração e de extensão.'
A analista
de mídias sociais Patrícia Andrade é uma das profissionais que aproveitou esse
vácuo no mercado de novas tecnologias. Atualmente, ela é responsável por
monitorar contas de redes sociais de personalidades e empresas. Além disso,
Patrícia decidiu passar conhecimento e ministra cursos para pessoas
interessadas no ramo. 'Com o crescimento do marketing digital, fui obrigada a
montar outros cursos para atender a necessidade do mercado.'
Neste ano,
entre as cinco carreiras de TI que mais contrataram, Engenharia da Computação
paga o maior salário: uma média de R$ 7,5 mil mensais. Para gerente de
tecnologia da informação, o valor é de R$ 7,4 mil. Para analistas de sistemas
computacionais, o salário médio é de R$ 3,7 mil reais. Os dados são da
Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação. Segundo o
diretor da entidade, Sérgio Sgobbi, a ampliação do uso de tecnologia em
diversos setores torna o salário mais atraente. 'Se o profissional se
especializa na área de saúde, por exemplo, isso pode refletir no salário dele.'
No início de
junho, três entidades que representam o setor de Tecnologia da Informação e
Comunicação entregaram um manifesto ao presidente, Michel Temer. O
grupo pediu a retomada de incentivos fiscais a equipamentos, como computadores
e smartphones, e a expansão da infraestrutura de acesso à internet.
Referência: CBN