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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Auditoria adicionando valor

Charles B. Holland é contador, empresário, diretor executivo da Anefac e da Holland Consulting

Em decorrência de honorários baixos muitos auditores independentes fornecem o mínimo essencial para os seus clientes. O rodizio de auditores mantido obrigatório pela Comissão de Valores Mobiliários para companhias abertas tem contribuído para aviltamento de honorários. No início do processo de rodízio houve benefícios. Tirou algumas empresas abertas e firmas de auditoria de suas zonas de conforto. O rodizio foi mantido apesar de ter havido melhorias radicais de monitoramento de qualidade implantado pela profissão.

Na época da implantação do rodízio de auditores havia no mercado a percepção de falta de ceticismo e de oxigenação nos relacionamentos. Atualmente nos processos de licitação os contratantes não visualizam em muitos casos diferenciação de benefícios entre uma firma e outra, particularmente quando as mesmas têm boa reputação no mercado. Na ausência de percepção de diferenciação de benefícios, o fator decisivo é sempre o menor preço. Na avaliação do beneficio desconhecido e o custo conhecido entre firmas idôneas, o menor preço é determinante.

Rodizio de auditores fora do Brasil é raro. Se fosse bom seria aplicável também para profissionais de confiança - médicos, advogados, dentistas, contadores, etc. Vale destacar que na última atualização de exigências, a CVM permitiu como atenuante às companhias abertas a manutenção de auditores independentes até dez anos, desde que as mesmas instituíssem Comitês de Auditoria estatutárias.

O escopo e campo de atuação de um auditor independente é do tamanho de sua cabeça e de sua capacidade. Os menos capacitados ficam atolados preenchendo questionários de aderência a regulamentos. Olham para documentos, planilhas eletrônicas, dispendendo a maioria do tempo nas telas de computador e no departamento de contabilidade. Cumprem as normas, mas esquecem de fazer o que é efetivamente importante: entender os negócios, respectivos riscos e conhecer os líderes nas empresas e respectivas expectativas, objetivos e desafios. Os líderes são os que fazem os números acontecerem.

Uma forma de autoavaliação de auditoria pode ser feitas através de três perguntas: Está fornecendo para a Administração informações sobre a capacidade da organização de atender os objetivos estratégicos? Identificou problemas que se resolvidos melhorariam os resultados da organização? Identificou oportunidades de melhorias e possíveis áreas de risco?

Para fazer auditorias eficientes é essencial entender os negócios da empresa. Pressupõe conhecer bem os processos e controles chaves nas áreas de produção, administração, vendas e finanças, seus principais riscos e lideres. As pessoas fazem os números acontecerem. Um hábito recorrente entre muitos auditores independentes é concentrar muito tempo nas telas dos computadores e no departamento de contabilidade, e pouco fora do mesmo. Também investem pouco tempo em leituras especializadas setoriais, entendendo a concorrência, etc. Acessam pouco as bibliotecas de conhecimentos especializados mantidos pelas firmas de auditoria.

Exemplos onde auditores independentes podem e precisam investir mais tempo e atenção: Revisão e entendimento dos relatórios gerenciais usados pela Administração para acompanhar os seus negócios. Se os mesmos são fracos ou desalinhados com os informes contábeis o auditor pode e deve contribuir efetivamente para melhorá-los. Revisão externa traz questionamentos salutares. Obtenção e acompanhamento dos indicadores chave de negócios usados pela Administração. Se o auditor não sabe o que a Administração julga importante e o que está medindo e acompanhando, ele não está executando seu trabalho adicionando valor. Esta executando o trabalho distante da Administração.

Revisão e entendimento dos orçamentos, incluindo os processos e controles para a sua elaboração. Transmissão de informes de seu trabalho em linguagem clara e objetiva. Revisão de todos informes importantes encaminhados para o mercado e acionistas, incluindo quando aplicável os press releases, formulário de referência, e outros.

De acordo com as normas nacionais e internacionais de auditoria em vigor os auditores deveriam sempre ler os referidos documentos no paragrafo anterior, com objetivo de identificar inconsistências relevantes com as demonstrações contábeis auditadas ou revisadas (trimestrais). Na pratica muitos auditores só ficam concentrados nos informes contábeis, dispensando pouco ou nenhum tempo para os outros informes igualmente importantes encaminhados ao mercado.

Somente os tomadores de serviços são capazes de acelerar as melhorias necessárias. O tom, as solicitações e expectativas devem partir dos membros da governança nas empresas, particularmente dos integrantes dos Comitês de Auditoria, Conselhos Fiscais e Diretores de Controladoria e equivalentes. As oportunidades para adicionar valor são enormes. O mercado deve continuar questionando a qualidade dos trabalhos. Assim como a pipa só sobe quando encontra ventos contrários, a profissão de auditor independente é mais valorizada quando há questionamentos salutares.

Fonte: DCI

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