Seguir todas as leis trabalhistas é o
correto, mas às vezes ela vai contra a própria vontade dos empreendedores e
colaboradores
Primeiro,
gostaria de deixar claro que não sou contador, nem advogado trabalhista, sou
apenas um empreendedor que, vira e mexe, se depara com algumas incongruências
relativas a nossa “querida” CLT.
Abri
minha primeira empresa com 20 anos, dentro de uma incubadora no CEFET em
Curitiba, no Paraná. O legal de uma incubadora é que, quando você não tem
dinheiro algum, uma mesa, computador e alguns professores para te ajudar são
coisas fantásticas. O ponto que acabei aprendendo na sequência é que uma
incubadora em uma universidade técnica te ajuda com assuntos técnicos, este
assunto de administração, marketing, contabilidade, tudo isso a gente aprende
depois que sai de lá.
Bom,
depois que sai da incubadora eu, meus sócios e 3 colaboradores fomos viver a
vida real, contratamos um escritório contábil super “baratinho” – acho que uns
R$ 50,00 por mês, na época um ótimo negócio. Este contador nos passava algumas
guias para pagar, pagávamos e a vida seguia. Depois de uns 3 anos, acabei tendo
mais tempo para a área administrativa e comecei a notar que o pagamento que
fazíamos referente a impostos e encargos não estavam muito corretos. Resumo:
acabei trocando de contador e ficando os 3 anos seguintes sem praticamente ter
lucro, só pagando os erros dos 3 anos anteriores.
Deste
dia em diante, eu prometi a mim mesmo que ia prestar mais atenção sobre quais
são as obrigações legais de minha empresa e iria trabalhar o mais correto
possível. Adoro falar isso, pois, quando um colaborador que trabalha comigo ler
um artigo como este, tenho certeza que ele se sentirá respeitado por essa
decisão de seguirmos a lei, mesmo que as vezes isso não o beneficie
diretamente.
Neste
artigo sobre CLT não vou criticá-la, pois acredito que ela seja necessária para
garantir o mínimo de segurança aos trabalhadores, afinal, tem cada empresa por
ai que é dureza. O maior problema que eu sentia quando tinha 3, depois 5 e mais
tarde 10 profissionais trabalhando comigo era a concorrência desleal. O
problema não era pagar 2 vezes o salário dos profissionais, o duro é que a
maioria dos nossos concorrentes não pagavam isso, o que tornava nosso preço
mais elevado e o trabalho para vender muito mais complexo. O interessante dessa
história é que, mesmo com isso, nossa empresa continuou crescendo, contratando
mais colaboradores e continuando totalmente dentro da lei. Hoje, olhando para
trás, entendo que a empresa seguir as regras trás colaboradores melhores, que
te ajudam no crescimento, que com isso consegue manter as regras e o ciclo se
completa.
Hoje,
já em outra empresa, com mais de 100 colaboradores, não tive dúvidas sobre
continuar seguindo piamente a CLT. O problema é que, à medida que nossa empresa
vai evoluindo e buscando práticas mais modernas de gestão, confesso que seguir
a lei está sendo muito chato.
Agora,
o problema da CLT não está no custo, não está na concorrência, o problema está
em evoluir na flexibilidade que as novas gerações de profissionais estão
procurando. Vou citar alguns exemplos.
O problema da CLT não está no custo, não esta na
concorrência, o problema está em evoluir na flexibilidade que as novas gerações
de profissionais estão procurando.
Quando
estruturamos os salários e benefícios de nossos colaboradores, me avisaram para
descontar um percentual sobre o Vale Transporte e o Vale Refeição. Minha
primeira resposta foi: “não precisa, vamos utilizar o não desconto também como
um benefício”. Mas depois de alguns minutos conversando com nossa contabilidade
tive que me render e descontar um valor simbólico.
Outro
fator que não consegui entender ainda é em relação as férias. Acredito que as
férias de 30 dias diretos ou 20 dias com 10 comprados não sejam as melhores
opções para todos. Eu, por exemplo, adoro tirar 4 semanas separadas durante o
ano, mas infelizmente nossa CLT não permite, ou seja, o desejo do colaborador
nesse caso não vale nada.
Quer
ver outro ponto onde o desejo do colaborador também não vale muito? Horas de
trabalho. Hoje, existem empresas que trabalham com metas e o legal delas é que
o colaborador pode crescer muito rápido. Chamamos isso de meritocracia.
Acontece que os colaboradores só podem trabalhar 2h a mais do que as 8h
permitidas. Para algumas pessoas que estão lendo este artigo talvez soe
estranho, mas trabalhar 10h por dia não é muito para quem tem “sangue nos
olhos”. A maioria dos empreendedores que estão lendo este artigo, garanto,
trabalham 12h, 14h ou até 16h todos os dias. Mas seu colaborador não pode. Por
mais que ele queira, você precisa pedir para ele ir embora.
Minha
maior indignação atual com a CLT não está mais em relação ao custo ou
burocracia. Hoje, o que mais me irrita é a limitação que a CLT às vezes nos
impõe e que dificultam como agir, no dia a dia, com nossa equipe. Conheci
várias empresas que praticamente aboliram o uso da CLT, simplesmente por
acreditarem que era um limitador da felicidade geral da equipe e com isso um
limitador do crescimento da empresa. Será que a competição entre as empresas
continuará sendo as que seguem a lei versus as que não seguem? Só que, agora,
as que não seguem são onde os colaboradores preferem trabalhar, pois são mais
flexíveis, rentáveis e divertidas…
Fonte: ENDEAVOR
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