Pesquisa
mostra que, em 2012, o valor das vendas industriais dos segmentos têxtil e de
confecções foi de R$ 46,5 bilhões.
O
uso da capacidade instalada pela indústria têxtil e de confecções tem se
mostrado em níveis superiores a 80%, aliado aumento no número de empregos e
evolução de faturamento se opõem a informações recentes de que o setor está
vivendo sua maior crise.
Ao
contrário, o cenário mostra plena utilização da capacidade instalada e aumento
de empregos no setor de confecções nos últimos anos. Mas os baixos
índices de investimento em inovação e treinamento para formação e retenção da
mão de obra preocupam o grande varejo e ameaçam o atendimento à demanda
crescente, penalizando o consumidor final.
É o
que mostra um novo estudo elaborado pela FGV Projetos que está sendo
apresentado a representantes do governo pela ABVTEX (Associação Brasileira do
Varejo Têxtil). “Buscamos com este trabalho uma análise independente e
especializada que pudesse mostrar a realidade do setor”, comenta a ABVTEX.
O
trabalho intitulado Análise da Estrutura Setorial da Cadeia Têxtil Brasileira e
Perfil de Consumo de Artigos de Vestuário mostra que, em 2012, o valor das
vendas industriais dos segmentos têxtil e de confecções foi de R$ 46,5 bilhões.
Esses dois elos da cadeia empregaram pouco mais de 1 milhão pessoas. No varejo,
o nível de emprego em 2012 foi de 670 mil pessoas.
Entre
2007 e 2012, o segmento de confecção apresentou crescimento de 8,9%, sendo que
o volume de vendas do varejo de artigos têxteis e de vestuário cresceu 3,9% ao
ano em média.
O
indicador de utilização da capacidade instalada nos dois segmentos industriais
(têxtil e de confecções) revela que o setor trabalha a plena capacidade.
Ressalta-se
também que o gasto estimado anual das famílias brasileiras com esses produtos
em 2012 foi da ordem de R$ 102 bilhões. Esse valor representou 3,7% das
despesas de consumo das famílias, parcela superior aos gastos com itens como
medicamentos e eletrodomésticos.
O
relatório da FGV exibe os resultados obtidos a partir de séries históricas
referentes aos três elos produtivos da cadeia: o varejo e as indústrias que o
suprem, têxtil e de confecções.
Nível
de emprego na indústria cresce
Mais
um dado surpreendente do estudo da FGV Projetos está relacionado ao nível de
emprego da indústria. A análise detalhada mostra que o nível de emprego formal
nos três elos analisados no estudo superou em 2012 a marca de 1,7 milhão de
postos de trabalho, o que representa 3,7% do total de empregos formais ativos
no Brasil neste ano. Destacando apenas o varejo têxtil, os 693 mil empregos
ativos em 2012 representavam 10,6% do total de posições formais ofertadas pelo
comércio varejista como um todo no país.
Desde
2007, o crescimento médio do emprego no setor foi de 3,6% ao ano, o que
resultou na criação de 277 mil novos empregos no período. A dinâmica do emprego
em cada um dos segmentos foi bastante distinta.
Gráfico
5.1.1
Evolução
anual do emprego na cadeia têxtil brasileira - 2007-2012
*
Estimativa FGV
Fonte:
RAIS e Caged / MTE. Elaboração: FGV
O
gráfico acima apresenta a evolução do número formal de empregados nos três elos
da cadeia têxtil, bem como do emprego total. No setor têxtil, nota-se a estabilização
do emprego. Já na indústria de confecção, o crescimento foi de 3,7% ao ano em
média e foram criados 123 mil postos de trabalho formais no período. A grande
expansão do emprego formal, isto é, com carteira de trabalho assinada, se deu
no varejo, com 5,3% de crescimento médio ao ano e a criação de 157 mil postos
de trabalho formais.
O
estudo nota que o segmento de confecção tem passado por um forte movimento de
formalização de sua mão de obra, fato que explica o bom desempenho do emprego
com carteira assinada.
PIB
Setorial é positivo, mas investimentos não priorizam mão de obra
O
PIB da cadeia têxtil em 2012 atingiu R$ 38,3 bilhões e estava distribuído da
seguinte forma:
•
Fabricação de produtos têxteis: R$ 8,1 bilhões;
•
Confecção de artigos de vestuário e acessórios: R$ 9,5 bilhões;
•
Varejo de produtos têxteis e de confecção: R$ 20,7 bilhões.
Entre
2007 e 2012, o PIB do setor têxtil caiu 3,4% ao ano em média, já descontada a
influência dos preços. No entanto, no segmento de confecção e no varejo houve
crescimento de 5,3% e 5% na mesma base de comparação, respectivamente.
A
despeito dos resultados, os investimentos do segmento têxtil mostram-se
bastante tímidos, somando R$ 1,1 bilhão. Na indústria de confecções, esse
número foi de R$ 615 milhões ou 23,3% do total. Já no varejo, o investimento
foi de R$ 910 milhões ou 34,4% do total.
A
queda no investimento no segmento têxtil tem limitado o acesso à inovação no
segmento, uma vez que as empresas desse ramo apontam a aquisição de máquinas e
equipamentos como a principal fonte de acesso a novas tecnologias. No ramo de
confecção, apesar da importância atribuída ao treinamento como forma de acesso
a inovações, os gastos das empresas com esse tipo de atividade ainda é
limitado.
Segundo
a ABVTEX, a falta de investimentos da indústria em inovação e treinamento de
mão de obra são muitos preocupantes e comprometem o futuro da cadeia. Não
adianta investimentos em maquinário sem uma mão de obra preparada para utilizar
as tecnologias. O componente humano é ainda fator chave nesta cadeia”, informa
a ABVTEX.
Importações
suprem demanda
O
comércio exterior brasileiro de artigos têxteis e de confecção tem sido
deficitário nos anos recentes. Esse desequilíbrio chegou a US$ 2,9 bilhões em
2012, sendo US$ 2,2 bilhões referentes a artigos de vestuário e US$ 737 milhões
relativos artigos de tecelagem. A alta cambial registrada desde o final de 2011
não alterou a tendência de piora desse saldo negativo.
Especialmente
no segmento têxtil, o crescimento das importações tem contribuído para suprir o
descompasso entre o crescimento da demanda das famílias e a produção industrial
É
importante destacar que o crescimento das importações de têxteis e vestuário
está em linha com um movimento mais geral, observado no comércio exterior
brasileiro como um todo. Assim, considerando o período 2006-2012, o valor total
das importações brasileiras passou de US$ 7,6 bilhões para US$ 17,5 bilhões, o
equivalente a um crescimento médio anual de quase 15% ao ano. Ao par disso, as
importações de bens de consumo em geral passaram de US$ 997 milhões para US$
3,2 bilhões, apresentando crescimento médio anual de 22%. Por sua vez, as
importações de têxteis e vestuário cresceram 22,6% e 35,3%, respectivamente, no
mesmo período.
“Apesar
de expressivas, essas taxas de crescimento das importações de têxteis e
vestuário cumpriram papel importante no abastecimento do mercado interno
brasileiro no período”, destaca a FGV Projetos. Assim, segundo dados da PMC
(Pesquisa Mensal do Comércio) do IBGE, entre 2006 e 2012, o volume de vendas do
comércio varejista de artigos têxteis, vestuário e calçados cresceu cerca de 5%
ao ano em média. Com isso, em 2012, o mercado nacional desses produtos era
cerca de 1/3 maior do que no início do período.
Gastos
das famílias
Do
gasto total das famílias brasileiras com artigos da cadeia têxtil, 45,2% se
referem à compra de artigos para mulheres. Seguem-se os gastos com aquisição de
roupas masculinas (36,1% da categoria), infantis (17%) e os tecidos e artigos
de armarinho (2%).
Regionalmente,
os gastos das famílias com artigos da cadeia têxtil concentram-se no Sudeste
(46,3% do total). Seguem as regiões Nordeste (20,6%), Sul (18,9%), Norte (7,2%)
e Centro Oeste (6,9%).
Considerando
os estratos de renda, as famílias com ganhos de até 3 salários mínimos
respondem por 16,1% dos gastos com artigos têxteis e de vestuário. As faixas
entre 3 e 10 salários mínimos representam 44,2% desse total e aquelas com renda
acima de 10 salários mínimos, 39,7%.
“Hà
um descompasso entre os números do varejo e da indústria. O aumento de renda
das famílias e a consequente expansão do mercado consumidor não têm sido
acompanhados do crescimento da produção indústria, daí a necessidade de
importar artigos de confecções para garantia de abastecimento”, analisa a
ABVTEX.
À
plena capacidade
Como
regra, a utilização da capacidade instalada no segmento têxtil se manteve
sempre acima dos 80%.
Gráfico
2.3.3
Evolução
da utilização da capacidade instalada – média móvel dos 4 últimos trimestres
(2000 - 2012)
Fonte:
FGV
O
segmento de vestuário e calçados apresentou uma tendência crescente de
utilização da capacidade instalada, de forma que, no final do ano de 2012,
estava muito próximo do valor mais alto da série histórica analisada. Esse
aumento foi uma resposta do setor industrial ao crescimento do comércio.
“A utilização da capacidade instalada superior a 80% por quase todo o
período observado nos dois segmentos, indica que o setor apresenta pouca
ociosidade e que, portanto, aumentos de produção para responder a elevações da
demanda, no curto prazo, poderiam pressionar os preços”, diz o estudo.
Conclusões
O
estudo conclui que o setor brasileiro de produtos têxteis e de confecções
constitui uma das cadeias produtivas mais importantes da indústria brasileira,
tanto por conta do número de empregados quanto pela relevância de seus produtos
na atividade do varejo e nos gastos das famílias.
Em
paralelo, o crescimento real da renda, sobretudo nos estratos mais pobres, tem
garantido forte expansão do comércio. As taxas de crescimento do varejo têxtil
e de confecções só têm ficado abaixo da média do comércio em geral por conta do
desempenho excepcional de segmentos como o de automóveis, produtos da linha
branca e materiais de construção, fortemente estimulados por medidas de
desoneração que se intensificaram após o início da crise financeira
internacional em 2008.
No
segmento de confecção, o estudo conclui que o grande desafio encontra-se na
conciliação de ganhos de qualidade, em linha com as exigências dos consumidores
finais, com ganhos de produtividade, imposição da concorrência externa. Estes
últimos devem resultar da intensificação dos esforços de treinamento de mão de
obra e de uma colaboração intensa e contínua com o próprio varejo, canal
natural de contato com os consumidores finais. Nesse sentido, é fundamental
garantir a continuidade do processo de formalização das empresas de confecção,
processo com o qual a atuação responsável das empresas do varejo pode
contribuir como fator indutor decisivo.
Por
fim, no ramo têxtil, o estudo afirma que é urgente recuperar os níveis de
investimento que caíram desde o início da crise internacional. Dado que os
diferenciais de salário são francamente desfavoráveis à indústria local em um
comparativo internacional, a modernização do parque produtivo surge como
mecanismo preferencial de modernização as técnicas produtivas, abrindo espaço para
a recuperação dos ganhos de produtividade. Só assim será possível às empresas
desse segmento fazerem frente ao desafio competitivo das importações e buscarem
elas próprias explorar possibilidades de ganho no mercado internacional.
“As
dimensões do mercado brasileiro de produtos têxteis e de confecção permitem
explorar as oportunidades de operar em escala. Mas essa vantagem de um mercado
interno grande e em expansão deve servir de fundamento para estratégias de
internacionalização, não de fechamento. O acesso das famílias brasileiras de
maior renda a produtos estrangeiros, sobretudo por ocasião de suas viagens
internacionais, deixa explícito o diferencial competitivo entre o mercado
brasileiro e muitos mercados internacionais de produtos de vestuário”, afirmam
os analistas.
Acesso
aos mercados internacionais via exportação e importação, atenção crescente às
exigências dos consumidores, treinamento e investimento com ganhos de
produtividade. “Essa é a síntese da cadeia brasileira de produtos têxteis e de
confecção em um cenário ideal”, destaca a FGV Projetos.
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