O profissional “essencialista”,
explica McKeown, é aquele que vê claramente a diferença entre o desnecessário e
o indispensável. A teoria soa simples: ao dizer “não” a tarefas irrelevantes,
você investe toda a sua energia só naquilo que é essencial. Como resultado, o
seu desempenho vai às alturas.
A prática pode ser mais
complicada, mas McKeown, nomeado um dos “Jovens Líderes Globais” pelo Fórum
Econômico Mundial, procura viver o que prega. Para escrever o livro, ele
trabalhou por nove meses em “modo monge”, isolado num escritório privado no
quintal de sua casa em Menlo Park, Califórnia.
A capacidade de se concentrar
apenas no essencial, defende o britânico, é o segredo para o sucesso em um
mundo hiperconectado e cada vez mais abarrotado de informações, opiniões e
tarefas. Veja, a seguir, os principais trechos da conversa exclusiva da
Exame.com com McKeown, que entrou para a lista dos autores mais lidos em 2015,
segundo o jornal “The New York Times”:
Exame.com: Muitos profissionais
têm se sentido, ao mesmo tempo, sobrecarregados e improdutivos. O que explica
esse paradoxo?
Greg McKeown: Na última década, a
humanidade se deparou com uma explosão de escolhas. Mais do que isso, também se
criou um excesso na oferta de opiniões sobre todos os assuntos na internet.
Diante disso, as pessoas estão
deixando de ser seletivas, elas tentam fazer um pouco de tudo. O resultado é
que elas sentem que estão sempre trabalhando, mas que também estão sempre
atrasadas.
Então o problema não é a falta de
tempo, mas a dificuldade de fazer escolhas?
Exatamente. Existem recursos
finitos que podem ser encaixados em possibilidades infinitas. Ora, quando você
é funcionário de uma empresa, o que você espera do seu CEO? Que ele faça
escolhas estratégicas e invista naquilo que pode fazer a empresa se
desenvolver. Mas aqui está uma provocação: como CEO da sua própria vida, será
que você está alocando os seus próprios recursos de forma inteligente?
Isso permite “fazer mais com
menos”, um lema típico do discurso corporativo atual?
Permite fazer menos, mas melhor.
Essas são as três palavras mágicas do essencialismo: “menos, mas melhor”.
Não é só uma frase bonita para lembrar de vez em quando, é toda uma filosofia de
vida e de carreira. Ela permite que você use melhor os recursos de
que dispõe.
Fazer menos não é, de certa
forma, contrariar uma norma cultural do mundo empresarial, que normalmente
premia quem faz mais?
Sim. O essencialismo é uma
espécie de contracultura. Passei o último ano trabalhando essa filosofia em
diversos países, e me espantei com a imensa diferença entre a minha proposta e
a mentalidade reinante nas empresas. Mesmo assim, é possível ser um
essencialista num ambiente não-essencialista. Mas é um processo que demanda tempo
e paciência.
Como funciona esse processo?
Antes de tudo, é preciso mudar a
sua própria mentalidade. Depois de um longo período de pesquisa, quando você
finalmente descobre o que é essencial e traz valor para o seu trabalho, então
você se torna apto a negociar com seu sócio, com o seu CFO, até com a sua
sogra.
Quando sabe o que é essencial,
você conquista o direito de recusar tarefas irrelevantes. De forma educada,
claro, porém firme. Não se deve dizer simplesmente: “Não, não vou fazer isso”.
É melhor dizer: “Veja, esta tarefa é interessante, mas acho que aquele outro
caminho pode trazer mais resultado”. Antes de negociar, você precisa saber, com
propriedade, o que é essencial. Ter essa clareza traz um grande empoderamento.
Como saber o que é essencial?
Você precisa revisar toda a sua
vida, desde o início, pensar no legado dos seus avós, dos seus pais. Do dia em
que nasceu até hoje, quando a vida foi boa? Quando a vida foi ruim? Quais são
os seus objetivos a longo prazo? Como você quer que os seus netos se lembrem de
você?
Pensar com uma perspectiva longa,
tanto na direção do passado quanto do futuro, é o segredo para perceber o que é
essencial. Esse distanciamento do olhar é o que está por trás do pensamento do
essencialista.
Quem não tem essa mentalidade está
apenas reagindo ao próximo email que recebe, está apenas respondendo à agenda
das outras pessoas.
A filosofia do essencialismo
também é válida em tempos mais vulneráveis, como os de uma crise econômica?
Se você tem medo, realmente é uma
estratégia arriscada para tempos difíceis. Mas só se você executá-la mal. Se
fizer as coisas do jeito certo, você pode ter uma grande vantagem profissional
em qualquer ambiente econômico. Na verdade, a vantagem é ainda maior num
ambiente de crise.
Se você não souber implementar a
mentalidade essencialista, ela pode ser perigosa. Mas, se souber usá-la bem,
ela pode ser um grande impulso para seu negócio.
Fonte: EXAME
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