Negociar faz parte de nossa vida
profissional, familiar e social, e passamos cerca de 80% do nosso tempo
negociando. Mais ainda: a competência de liderar, na era do trabalhador do
conhecimento, dependerá da capacidade de exercer influência em situações para
as quais não se tenha autoridade formal, como com superiores hierárquicos,
colegas e pessoas de fora da organização. Negociar é – e será cada vez mais –
uma habilidade indispensável para os profissionais do século 21. A seguir
apresentamos alguns fundamentos que fazem a diferença entre o sucesso e o
fracasso em qualquer negociação, seja ela simples ou complexa.
1 –
Conheça o assunto da sua negociação
Faz alguns anos, num dos treinamentos
que desenvolvi, um participante me pediu ajuda numa negociação que estava
realizando. Analisei a situação e constatei que ele ia ter sérios problemas.
Por quê? É que ele estava analisando a situação só pela ótica técnica, mas a
dificuldade principal desta negociação era de natureza jurídica e ela
precisava, e com urgência, da ajuda de um advogado. Sem isto, não haveria
possibilidade de se sair bem nesta negociação.
Assim, conheça muito bem o assunto da
sua negociação na totalidade dos pontos de vista que podem ser, entre outros,
de natureza administrativa, jurídica, técnica, econômica, financeira, fiscal e
cultural. Quem não conhece muito bem o assunto da sua negociação é como uma
pessoa que anda de táxi numa cidade desconhecida. Pode ser ludibriada com a
maior facilidade.
2 –
Defina muito bem os seus objetivos e lute pelo desejável
Negociação é o processo de alcançar
objetivos através de um acordo nas situações em que existam interesses comuns,
complementares e opostos, isto é, conflitos, divergências e antagonismos de
interesses, ideias e posições.
Assim, a negociação, como tudo na
vida, começa pela boa formulação de objetivos. Existem três categorias de
objetivos: acomodados, alucinados e ousados, mas possíveis. Devemos ter
presente que quem espera pouco alcança pouco, mas quem tem objetivos alucinados
vai ter frustração. Os objetivos além de desafiantes devem ser SMART, ou seja,
específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e definidos no tempo. Um
outro aspecto é que em negociação, os objetivos também devem ser definidos pela
margem de negociação, que é o espaço que vai do desejável, ou seja, aquilo que
consideramos o resultado que mais queremos, e o limite, que representa o máximo
de concessões que estamos dispostos a fazer, que se não for obtido fará com que
seja preferível o impasse. Assim, defina sua margem de negociação para tudo o
que for ser negociado, como características técnicas, preços e prazos. Lute
pelo desejável, mas com flexibilidade. Mais ainda, não tenha receio do impasse
pois quem receia o impasse acaba fazendo concessões em demasia. Para saber se é
melhor conceder ou ir para o impasse se pergunte pelas consequências do
impasse. E é isto o que eu chamo de MADI – Melhor Alternativa Disponível Diante
de um Impasse.
3 –
Processo
É o caminho percorrido desde o início
até o final da negociação e, quer se tenha consciência ou não, toda negociação
é um processo. Assim, o sucesso não depende apenas do conhecimento do assunto,
mas também da sequência, ou seja, das etapas, como este assunto é tratado.
Existem 7 etapas que são: Preparação, Abertura, Exploração, Apresentação,
Clarificação, Ação Final e Controle/Avaliação. Em geral, as pessoas dão pouca
atenção ao processo e se concentram mais no conteúdo, ou seja, no assunto da
negociação. Um ponto importante neste processo é que o que importa não é o que
se faz, mas a resposta que se obtém pelo que se faz, ou seja, o feedback que se
está recebendo. E se aquilo que se faz não der a resposta que se quer, devemos
mudar. Assim, o foco deve estar no outro negociador. E muitos negociadores
esquecem deste ponto de capital importância.
Um outro aspecto que deve ser
realçado neste processo é que a negociação só acaba quando o acordo foi
cumprido não acaba quando o acordo foi firmado. E quem acha que a negociação
acaba quando o acordo foi firmado, pode ser vítima do falso acordo, ou seja, um
acordo em que uma das partes faz sem ter a intenção e o comprometimento para
cumpri-lo. Assim, aquilo que se considera uma ótima negociação, pode vir a se
transformar num grande pesadelo.
4 –
Prepare-se
A maioria das negociações é ganha ou
perdida, bem feita ou mal feita, de acordo com a qualidade da preparação. É
sempre bom ter presente que “quem não leva a sério a preparação de algo, está
se preparando para o fracasso”. Portanto fracassar é a coisa mais fácil do
mundo. Bata apenas não se preparar. A diversidade dos assuntos e competências
necessárias pode fazer com que, frequentemente, seja preciso negociar em
equipe. Equipes bem preparadas podem ser extremamente fortes. As mal
preparadas, um verdadeiro desastre. Assim, a primeira coisa é a consciência da
importância da preparação. Mas só isto não basta. É preciso saber como se
preparar para o sucesso. Para isto desenvolvi uma metodologia extremamente útil
e poderosa, a Matriz de Preparação. Ela mostra como se preparar levando em
contra todas as partes envolvidas e, mais ainda, como realizar uma análise de
risco. E isto é fundamental, tendo em vista que a era da certeza acabou. Assim,
devem ser considerados o melhor que pode acontecer, mas também o que fazer no
caso da Lei de Murphy, que nunca pode ser desprezada, se manifestar. A
preparação deve ser feita para todas as etapas e sempre se deve levar em conta
que a negociação só acaba quando o acordo foi cumprido.
5 –
As duas formas de se negociar:
Existem 2 formas de se efetuar uma
negociação que são:
a)
Barganha de Propostas - que pode ser agressiva, tipo
comprador de supermercado, ou suave, tipo quem negocia a compra e venda de
automóveis. O objetivo de qualquer barganha é obter o máximo de concessões da
outra parte. A diferença está que na barganha agressiva não existe preocupação
com o relacionamento com a outra parte. Já na barganha suave, o relacionamento
também é importante e, mais ainda, levar vantagem fazendo o outro acreditar que
foi ele quem se deu melhor na negociação
b)
Solução de problemas – quem segue este caminho aprofunda
a compreensão do que está sendo negociado e procura encontrar alternativas e
soluções que atendam aos interesses das partes. Todo negociador quer ganhar.
Mas existem duas maneiras de ganhar. Uma, às custas do outro. Outra, de forma
que os interesses das partes sejam atendidos. O que deve ficar claro é que as
negociações internas, numa empresa, devem ser conduzidas na base da solução de
problemas. Caso contrário o resultado será o perde/perde e assim, quem perde é
a própria empresa. Portanto, só pode haver sinergia caso as negociações
internas sejam conduzidas na base da solução de problemas.
6 –
Conheça as táticas éticas e as não éticas
As táticas referem-se à informação,
tempo e poder. Informação é a matéria prima da negociação. Assim, é básico
saber como dar, negar e obter informação, separando-se o joio do trigo. Devemos
levar em conta o que se diz em computação: “se entra lixo, sai lixo”. Toda
negociação ocorre no tempo e neste sentido devemos levar em conta a urgência e
os tempos limites. Mas também, toda negociação é um jogo de poder. Devemos
saber como influenciar a outra parte e igualmente considerar as formas como a
outra parte pode nos influenciar.
As táticas podem ser éticas e não
éticas. Existem duas categorias de táticas não éticas: as falcatruas e as
táticas de fragilização do estado mental. Entre as falcatruas estão a falsa
negociação, a criação de dependências e a surpresa final. Já entre as táticas
de fragilização do estado mental estão o menosprezo, coitadinho,
mocinho/bandido, ameaças e a raposa e o corvo.
7 –
Identifique os cenários
Toda negociação ocorre em três
cenários. O primeiro diz respeito aos negociadores, estejam eles negociando
individualmente ou em equipe. Procure verificar a autoridade da pessoa com quem
você está negociando. O segundo cenário refere-se às pessoas que estão por trás
dos negociadores. É o chamado eleitorado. Todo negociador tem um eleitorado. E
um dos maiores temores de qualquer negociador é ser desconsiderado pelo seu eleitorado.
Tenha sempre uma saída honrosa para o outro lado. Um outro aspecto do segundo
cenário é apoio logístico, como banco de dados, setor de inteligência
estratégica e suporte para quem estiver negociando. Somente competência
individual pode não ser suficiente. Podem também ser necessárias as
competências de equipe e organizacional. O terceiro cenário é tudo o que está
fora dos dois cenários anteriores e pode variar da ONU ao bar da esquina.
Existem pessoas que soltam informações extremamente sigilosas em suas conversas
nos restaurantes.
8 –
Relacionamento interpessoal
Negociação implica relacionamento
entre pessoas e, consequentemente, comunicação. Toda negociação é uma conversa
e nesta conversa é muito importante estar atento ao clima emocional. Um clima
carregado quebra o processo de comunicação e consequentemente a negociação.
Assim, cuidado para não confundir a pessoa do outro negociador com suas
propostas. O outro pode ter posições ou idéias contrárias à sua. Mas isto não
significa que deva ser tratado como inimigo. Igualmente, não confunda firmeza
com grosseria. É possível ser firme e cortês.
9 –
Realidade pessoal
Tem a ver com o chamado jogo interno
da negociação, ou seja, com o que se passa na mente do negociador e que depende
de estados mentais, crenças e valores. Tenha presente que quem perde o jogo
interno, perde o jogo externo. Portanto, o sucesso numa negociação começa pelo
sucesso no jogo interno. Mas isto não é só para negociação e sim para qualquer
coisa na vida, como constatou Tim Gallwey, o precursor do coaching. Assim, os
princípios para se ter sucesso numa negociação são os mesmos princípios para se
ter sucesso em qualquer coisa na vida e que são conhecidos Princípios
Universais do Sucesso. Os princípios são universais, mas a aplicação é caso a
caso. Isto significa que o que deu certo no passado, se aplicado mecanicamente
no presente, pode redundar em grande fracasso.
10 –
Aprenda
Faça de cada negociação uma
oportunidade de aprendizado. Avalie acertos e desvios. Quem não procura
aprender com a prática acaba cometendo sempre os mesmos erros. Tenha como
princípio que é sempre possível fazer diferente e melhor. E que mar tranquilo
não faz bom marinheiro.
Por José Augusto Wanderley