Costumo destacar que gerir uma
empresa é e continuará sendo um maravilhoso desafio para os responsáveis porque
misturam-se, entre outros, diferentes visões, objetivos, competências,
culturas, conhecimentos, experiências, ambições, percepções, valores e recursos
materiais, financeiros e tecnológicos. Ocorre, entretanto, que mesmo com todos
os meios e tecnologia disponíveis e após tantos anos de vida executiva e
consultoria em gestão, estou convencido que uma das principais fraquezas da
maioria das organizações brasileiras, continua sendo a baixa qualidade dos sistemas
internos de informações gerenciais.
Três grupos distintos
De uma forma bem objetiva,
identificamos três grupos distintos de empresas com tais deficiências.
Geralmente, nos dois primeiros grupos encontramos a maioria das médias e
algumas grandes empresas, ou seja:Três grupos distintos
§ No primeiro grupo estão as organizações que já possuem instalado algum sistema de gestão integrado (ERP) e que, após muito tempo e quase sempre incorrido em altos investimentos, pouco conseguiram de melhoria na qualidade e eficácia das informações gerenciais.
§ No segundo grupo estão as empresas que desejam – e por isso continuam procurando – um “sistema adequado às suas necessidades”, pois acreditam que ao implantarem um ERP estarão solucionando todos os seus problemas.
Para esse dois grupos de empresas,
porém, a realidade continua sendo muito diferente, demonstrando – muito
menos em razão da qualidade e valor dos ERP´s – que:
§ nem sempre os altos investimentos requeridos (antes, durante e depois da
implantação), garantem um eficaz sistema de informações gerenciais; e§ a falta de ação / atitude dos responsáveis pela gestão, contribui fortemente para a manutenção do “status quo” e quem mais perde com isso é a própria organização.
E por que isso ocorre ?
- Quase sempre, em razão da visão
limitada dos profissionais envolvidos, os quais:
§ em relação ao primeiro grupo, não
conseguem focar naquilo que é realmente relevante para a gestão da empresa, e
como conseqüência, são criados e desenvolvidos dezenas (às vezes centenas) de
controles e relatórios que pouco contribuem para o bom gerenciamento da
organização; e
§ em relação ao segundo grupo,
porque não se apercebem da fragilidade ou deficiência de seus sistemas de
informações gerenciais ou quando têm essa consciência, apresentam as mais
variadas justificativas (ex: investimentos requeridos, estrutura, porte da
empresa, etc) para não buscar uma solução definitiva.
Por fim, no terceiro grupo,
estão as empresas (geralmente de menor porte) menos preocupadas com sistemas
integrados e que acreditam dispor das informações e dados relevantes para uma
boa gestão, tais como: Acompanhamento das vendas, Carteira de pedidos, Volume
de compras, Faturamento, Caixa e alguns indicadores de performance. Essas
empresas apresentam características comuns que destacam a forte presença do(s)
proprietário(s) e que conseguiram superar muitas adversidades ao longo do tempo
sem qualquer sistema de informação gerencial mais eficiente.
Características
em comum
Na prática, tenho observado que os
três grupos de empresas mencionados apresentam algumas características comuns
em suas performances :§ crescem quando o mercado está favorável; e
§ sofrem demais – e algumas desaparecem – quando a economia enfraquece, a demanda cai ou a concorrência fica mais acirrada.
Lamentavelmente, muitas organizações
descobrem tardiamente que o conjunto de informações gerenciais de que dispõem é
ineficaz e insuficiente para garantir a acertividade na tomada de muitas
decisões cruciais, tais como: definição de preço para uma grande concorrência,
continuidade de um negócio ou produto, expansão da empresa, aumento ou redução
de capacidade instalada, análise de margens de contribuição e rentabilidade, etc.
Infelizmente, somente em tais circunstâncias é que muitas empresas descobrem
porque é essencial dispor de um eficaz sistema de informações gerenciais, porém
quando isso acontece para algumas, já terá sido tarde demais!
Informações
gerenciais eficazes
Fundamentalmente, a mais importante
premissa para a construção de um eficaz sistema de informações gerenciais está
na existência de um bom sistema e processamento contábil, compreendendo, pelo
menos :
§ Plano de contas bem estruturado e adequado ao porte da empresa;§ Registro dos fatos contábeis com acertividade, melhor previsibilidade possível (quando necessário) e nas datas (ou mais próximas) de suas ocorrências;
§ Fechamento contábil mensal na data mais próxima possível do encerramento do mês;
§ Contas patrimoniais, de custos e despesas devidamente reconciliadas.
É importante ter sempre em mente que
a Contabilidade foi concebida como técnica e conceituada posteriormente como
ciência e é através dela que podemos extrair as principais informações
gerenciais para nossas organizações.
Com o avanço dos sistemas
informatizados em todas as áreas, o processamento contábil também ficou
facilitado, porém observa-se uma certa negligência por parte de muitas empresas
(principalmente naquelas que não são auditadas) em relação ao processamento das
informações para a Contabilidade e com isso perde-se muito em qualidade. Por
mais incrível que possa parecer, ainda é muito grande o número de empresas que
tem a Contabilidade apenas e tão somente como instrumento para atendimento das
obrigações fiscais e tributárias e para fins de obtenção de empréstimos /
financiamentos junto as instituições financeiras e governo.
A segunda premissa é a existência de
controles internos eficientes e de um bom sistema de controle de estoques, pois
é daí que se extrai a principal parcela dos custos na indústria e no comércio.
Quanto melhores forem os controles internos e o sistema de apontamento e
controle dos inventários, menores são as chances de desvios e perdas para a
empresa.
A terceira premissa caracteriza-se na
predisposição em estabelecer metas / objetivos em todas as áreas, monitorá-los
e revisá-los periodicamente.
Guardadas as peculiaridades do
negócio, porte e estrutura de cada organização, entendo que um bom sistema de
informações gerenciais deve, no mínimo, propiciar ou contemplar :
§ Formulação de Planejamento Estratégico ou Plano de Negócios e Controle
Orçamentário;§ Rigoroso planejamento e controle do Fluxo de Caixa;
§ Aprovação dos Investimentos somente após análises e cálculos de retornos;
§ Gerenciamento eficaz das vendas, carteira de pedidos, compras, faturamento, turnover de pessoal, comportamento dos custos fixos e variáveis, formação de preços, margens de contribuição por divisão de negócios e/ou linha de produtos;
§ Processamento contábil que permite fechamento e apuração dos resultados nos cinco primeiro dias úteis do mês subseqüente;
§ Demonstração de Resultados com análise comparativa (real X orçado), dos principais agrupamentos de custos e despesas operacionais;
§ Formulação e acompanhamento de “Indicadores chaves de performance” nas áreas de Vendas, Produção e Administração.
Como
está sua empresa ?
Convido o caro leitor à uma sincera
reflexão sobre o assunto: Você acredita que sua empresa não se
enquadra em algum dos três grupos retro-mencionados ?
Se você respondeu que ela “não se
enquadra”, parabéns, pois sua empresa faz parte de uma minoria e,
provavelmente dispõe de um eficaz sistema de informações gerenciais!
Todavia, caso tenha a percepção de
que sua organização “se enquadre” (ou apresente características
parecidas) com um dos grupos citados, acredito que o momento é apropriado para
buscar uma solução definitiva e, para tanto, faz-se necessário:§ Avaliar, criteriosamente, a qualidade do conjunto das informações gerenciais existentes;
§ Eliminar informações, controles e relatórios que não agreguem valor para a tomada de decisões consistentes;
§ Redefinir o conjunto de informações gerenciais necessárias à uma gestão eficaz, de acordo com o porte e estrutura da empresa; e
§ Desenvolver uma cultura organizacional focada em resultados.
Tenho a convicção de que um bom
sistema de informações gerenciais não é a garantia do sucesso de uma
organização, porém certamente será um dos principais contribuintes na sua
consecução.
Autor: Carlos A. Zaffani
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