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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Compliance como fator competitivo


Esse não é mais um dos neologismos do mundo da gestão empresarial

E então estamos aqui, diante, mais uma vez, de uma palavra da língua inglesa para determinar qual o modismo da vez em gestão, correto? Sinto dizer, mas não desta vez. Apesar de parecer mais um dos neologismos do mundo da gestão empresarial, que cria nomes rebuscados para questões que já conhecemos, o termo Compliance, de forma simples e direta, deriva do verbo em Inglês “to Comply (with)”, e diz sobre a qualidade de alguém ou algo que está de acordo (ou em conformidade) com direcionamentos, normas, procedimentos, especificações ou legislação vigente. Dentro das organizações, Compliance é a estrutura que faz a gestão dos assuntos relacionados à ética, aos valores, ao cumprimento de leis e políticas internas, entre outros, visando a uma boa governança e à proteção da reputação da organização.

Isto posto, cabe aqui fazemos um paralelo com outro conceito, este nascido na década de 1980: o de Fator Competitivo, ou Vantagem Competitiva. O termo foi cunhado por Michael Porter, renomado autor e teórico americano sobre estratégia. Em suma, sua teoria dizia que as organizações (e nações) deveriam buscar o desenvolvimento de produtos de alta qualidade para serem vendidos por preços mais altos que os dos concorrentes. E isso aconteceria quando uma organização desenvolve um atributo ou combinação destes que a permitiria se sobressair frente à concorrência.

Passadas três décadas desde a criação de Porter, podemos hoje nos apoiar neste conceito no que tange aos fatores ou atributos que diferenciam empresas e organizações em plena segunda década do século XXI. O conceito, que à época centrava o diferencial na qualidade (dos produtos), hoje passou a ser premissa para a permanência destes produtos no mercado. A evolução das tecnologias permitiu este salto e o diferencial pela qualidade perdeu o apelo.
Contudo, acompanhamos hoje o nascimento de um novo fator de competitividade organizacional, proveniente de uma questão muito mais antiga e basal do que a Vantagem Competitiva definida por Porter. Este novo fator de competitividade, ou o que virá a diferenciar e selecionar as organizações, até num sentido Darwiniano de continuidade de existência, está diretamente ligado aos valores da organização e como estes valores geram e retroalimentam uma cultura ética na organização.

Tomando os valores da organização como os pilares que sustentam e norteiam as tomadas de decisão desde a alta cúpula até a base da organização, inevitavelmente falamos aqui de sinônimos de ética, honestidade, honradez, integridade, além de outras palavras relacionadas ao sucesso da organização, mas que não são divergentes das primeiras.

Estes valores estão a serviço de uma demanda crescente da sociedade, de órgãos reguladores, dos acionistas, de consumidores, de órgãos reguladores e dos próprios trabalhadores (os chamados Stakeholders) que cada vez mais, supervisionam, escolhem onde querem atuar e o vão consumir, balizados por um senso crescente de que seu trabalho e aplicação de recursos deve ser consoante com seus valores pessoais, ou que o trabalho não agrida seus princípios.

Portanto, não entendo ser utopia dizer que assistimos ao alvorecer de uma nova era da gestão empresarial, onde uma gestão orientada por valores está para se transformar em uma fortaleza a ser premiada por uma sociedade que irá optar, cada vez mais, por organizações que atuem de maneira ética com seus clientes e funcionários, com a comunidade do entorno, com o meio ambiente, que respeite as leis. E o contrário também é válido: estes mesmos atores começarão a punir as organizações que caminham no sentido contrário. A começar por reguladores internacionais, como o Departamento de Justiça e a Security Exchange Commission, órgãos Americanos que seguem crescentemente condenando empresas ao redor do mundo com multas e acordos, por vezes bilionários, em relação aos casos de corrupção envolvendo agentes públicos, com base na lei americana anticorrupção no exterior (FCPA).
Ainda nesta linha, acionistas e investidores, escolherão, cada vez mais, organizações éticas pela segurança que trazem ao seu capital; por estarem menos sujeitas e escândalos que envolvam corrupção e outras intempéries que corroem o valor financeiro de suas investidas, trazendo severos prejuízos aos seus bolsos. E, por fim, mas não menos importante, um ambiente ético que valoriza e respeita as pessoas seguirá atraindo os melhores talentos, profissionais que queiram associar sua imagem e reputação ao colocarem seu conhecimento e engajamento em prol de organizações que atuem alinhados com seus próprios princípios. E como uma empresa é feita de gente, esta associação gera um engajamento diferenciado destes talentos, proporcionando uma atuação também diferenciada, criando um ciclo virtuoso. E obviamente lucro, pois, em nenhum momento uma gestão orientada por valores está dissociada da força motriz que torna estas organizações perenes no cenário empresarial.

Para concluir meu raciocínio a partir das ideias iniciais do texto: Compliance, enquanto instrumento que zela pela conformidade de normas, políticas, pelos valores corporativos e pela prática da ética empresarial, está se consolidando como um forte fator de competitividade e diferenciação em um novo mercado marcado por escolhas de consumo e investimentos e, de outro lado, multas astronômicas por não observância de leis poderão determinar a perenidade ou não das organizações que hoje conhecemos, locais ou globais.

E a sua empresa, ainda enxerga esse tal do Compliance como modismo de gestão?

Por Claudio Scatena

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