Vai bem longe o tempo em que a função de uma empresa de
contabilidade era apenas emitir guias para o pagamento de impostos. Desde os
anos 1980, quando a Receita Federal começou a se estruturar com o objetivo de
reduzir os índices de sonegação, o processo de informatização ganhou força e
agora possibilita um cruzamento de informações cada vez mais efetivo. Inovações
como a nota fiscal eletrônica e o Sistema Público de Escrituração Digital
(Sped), entre outras, tornaram-se familiares para os contribuintes,
principalmente para as pessoas jurídicas.
Os novos tempos exigem cuidado redobrado na coleta e envio
das informações para o Fisco, além de maior especialização dos profissionais de
contabilidade. Neste cenário, o trabalho de elaboração das declarações do
Imposto de Renda (IR) para as pessoas físicas perdeu espaço nos escritórios de
porte médio, embora ainda tenha peso considerável no faturamento das pequenas
firmas e dos profissionais autônomos.
Para a Rosário Contabilidade, de Porto Alegre (RS), há 42
anos no mercado e que emprega 16 pessoas, o serviço de preenchimento dessas
declarações não tem grande significado financeiro e praticamente se limita aos
sócios das companhias atendidas. O mesmo acontece na Confirp, de São Paulo, no
ramo há 25 anos. As cerca de 550 declarações feitas por ano respondem por no
máximo 10% do faturamento, garantido por uma carteira de aproximadamente 940
empresas de todos os portes. Apesar de o atendimento a pessoas físicas ser
restrito, a Confirp reforça seu time de 15 contadores nos dois meses que
antecedem a entrega do IR, marcado para 15 de abril, contratando principalmente
auxiliares para a realização dos trabalhos acessórios como a coleta e ordenação
de documentos.
No entanto, para firmas de contabilidade menores ou para os
autônomos, esses dois meses de "safra" podem significar até três
vezes o faturamento de um mês. O trabalho custa de R$ 70 a R$ 8 mil, dependendo
de sua complexidade. Este não é o caso do contabilista Alfredo dos Santos Neto,
que trabalha por conta própria há 22 anos. Em 2011, o profissional fez cerca de
25 declarações, cobrando entre R$ 70 e R$ 160. "As pessoas chegam aqui por
indicação de clientes e amigos porque não faço nenhum tipo de divulgação. Mesmo
assim, a procura aumenta todos os anos", comenta. A renda obtida com a
atividade representa aproximadamente 10% do que fatura com o trabalho de
assessoramento contábil para empresas.
Apesar das facilidades para declarar no modelo simplificado,
as crescentes exigências do Leão aumentaram a preocupação de pessoas físicas
obrigadas a apresentar o modelo completo, abrindo uma nova frente de negócios
para os contadores. "Os grandes pagadores estão contratando serviços
especializados para o acompanhamento mensal de suas receitas e o recolhimento
dos impostos, a exemplo do que fazem as empresas, evitando problemas futuros e
o pagamento de multas", explica Richard Domingos, diretor-executivo da
Confirp. A crescente procura por parte de um público mais abonado também foi
constatada por Márcia Tavares Sobral, da MTavares Contadores, escritório em
atuação há 10 anos no Rio de Janeiro. A empresa tem 22 funcionários, 16 deles
contadores.
Apesar de limitar o trabalho de atendimento à pessoa física a
cerca de 100 declarações por ano, elas chegam a representar 50% do faturamento
no tempo de safra do IR. Motivo: o serviço custa a partir de R$ 550.
"Grande parte desse público é formado por sócios das empresas que
atendemos e para quem fazemos o planejamento tributário, um trabalho que exige
uma especialização crescente", diz Márcia.
A necessidade do constante aperfeiçoamento dos profissionais
é enfatizada por todos. "Os serviços dos contadores estão sendo muito
valorizados em função de sua crescente complexidade", explica José Maria
Chapina Alcazar, presidente do Sindicato das Empresas Contábeis e de
Assessoramento no Estado de São Paulo (Sescon-SP). "Hoje, a principal
atividade dos contadores é analisar os orçamentos contábeis de seus clientes
para definir a estratégia a ser adotada para diminuir a carga tributária,
obedecendo às normas legais." Uma decisão errada pode significar grandes
prejuízos.
Alcazar lembra, por exemplo, que a decisão de adotar o
Simples Nacional precisa ser reavaliada a cada ano. "Se a empresa vai
passar por uma expansão, pode ser mais adequado optar pelo lucro real",
explica o presidente do Sescon-SP.
Outra atribuição é o cumprimento das obrigações acessórias.
Segundo Jaime Gründler Sobrinho, sócios da Rosário Contabilidade, existem cerca
de 150 obrigações. O Sped Contábil, anual e do âmbito do governo federal, é uma
delas. Esquecer essa exigência implica multa de R$ 5 mil por mês.
Por Jane Soares
Nenhum comentário:
Postar um comentário